domingo, 27 de abril de 2014

Relacionamentos

Sempre acreditei (e comprei) a ideia de que as pessoas não buscavam alguém para completá-las num relacionamento, e sim queriam um espelho, um reflexo de si mesmas. Quando pensamos no par ideal logo associamos o indivíduo aos nossos gostos pessoais: se gostamos de praia, procuraremos alguém que também goste de praia; assim, poderemos desfrutar de um prazer em comum. Se gostamos de Heavy Metal, vai ser difícil conciliar a paixão do outro pela calmaria da Bossa Nova.
Pelo menos era o que eu pensava.
Porém, o que tenho visto por ai são casais cujos indivíduos têm pouquíssimos gostos em comum, e em alguns casos, um é completamente diferente no outro no quesito estilo, personalidade e inteligência.
Aí eu me questiono: como pode dar certo um relacionamento assim?
A fisica explica a famigerada frase "os opostos se atraem". Charles Augustin de Coloumb desmistificou essa minha teoria há mais de duzentos anos atrás, quando formulou a Lei de Coloumb. Entretanto eu sempre quis ir contra as leis da fisica e acreditar que para um relacionamento dar certo seria necessário compartilhar dos mesmos gostos, vontades e, por que não, personalidade.
Talvez isso fosse verdade se estivéssemos procurando um... amigo. Nossos amigos sim se parecem conosco. No quesito relacionamento amoroso as coisas não parecem funcionar como eu pensava.
Minha imaginação brinca de trocar os casais que conheço, e posso garantir que 90% deles estão inclusos nessa troca.
Se existisse uma explicação lógica para o amor, minha teoria poderia ser patenteada. Mas o amor é irracional; não escolhe o homem de barba por fazer e barriga tanquinho, nem a mulher de olhos verdes e sorriso largo. O amor não seleciona por gosto musical ou culinário. O amor simplesmente acontece.
Ainda não satisfeita, descobri uma crônica do jornalista Arnaldo Jabor, intitulada "Crônica do Amor". O melhor trecho: 
"Ninguém ama a outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera."
Deve ser isso mesmo e toda aquela história que sempre ouvimos sobre alma gêmea seja uma mentira bonita. Afinal, não é o fim do mundo se ele gostar de correr na praia ouvindo Black Sabbath e você de relaxar na sua casa ao som de Maysa. Todos precisam ter seu espaço, caso contrário a vida a dois fica algo sufocante. E aí, caro amigo, não há amor que sustente.