segunda-feira, 10 de março de 2014

Sobre mulheres e flores

Diz o escritor Luís Fernando Veríssimo que "mulher que não recebe flores murcha rapidamente e adquire traços masculinos como rispidez e brutalidade". Esta frase faz parte de uma das dezenas de crônicas atribuídas a ele. De sua autoria ou não, não concordo com a sentença.
Mulher murcha rapidamente por não ser reconhecida em seu ambiente de trabalho; por desempenhar funções equivalentes as do sexo masculino e ganhar absurdamente menos.
Mulher murcha rapidamente ao se dedicar interruptamente às funções de mãe, esposa, amante, mulher e amiga e não ser notada: fazer tudo é muito pouco, afinal mulher é pau para toda obra.
Mulher adquire traços de rispidez e brutalidade ao sentir na pele a violência doméstica, ser estuprada física e moralmente pelo companheiro por quem jurou amar na saúde e na doença. E essa doença tem nome: machismo. Está entranhada nas vísceras e neurônios. Não há mais amor.
Mulher adquire traços de rispidez e brutalidade ao se sentir invadida, violada, constrangida ao ir tomar um sorvete no shopping e ouvir as frases mais grotescas que um homem pode proferir. Está calor. Suas pernas estão à mostra. E você é uma vadiazinha que não sairia assim na rua se não quisesse chamar a atenção.
Amo flores, de verdade, mas não faço questão em ganhá-las.
Sempre preferi meia dúzia de margaridas arrancadas de algum quintal do que rosas vermelhas envoltas em papel selofane: tudo muito prosaico e mecânico.
Nas datas comemorativas em que a mulher é o foco, as rosas (vermelhas) tomam conta do comércio. Não precisa pensar em nada mais original, afinal, qual a mulher que não se derrete ao receber um belo buquê de flores? 
Eu me derreto com gente educada. Gente de caráter. Pessoas que reconhecem o meu trabalho, respeitam minhas pernas de fora, que não insistem em me fazer engolir goela abaixo cantadas ofensivas e de baixo calão.

Respeite meus direitos, minhas vontades, meu corpo.
O fato de eu ter um útero não me torna mais ou menos digna do que qualquer ser humano. Não banque o ridículo (a) com um discurso sexista e opressor.

Amo flores, de verdade, mas não faço questão em ganhá-las. 
A não ser que seja meia dúzia de margaridas arrancadas de algum quintal.

O presente mais original nos dias de hoje é o respeito. Dê-me em abundância.


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