domingo, 2 de março de 2014

Carnaval

Eu e minha prima, carnaval de 1998.
Minha família tinha uma tradição no carnaval: levar as crianças para o carnaval infantil, de clube. Ah, como era bom. Era algo sagrado, inviolável. Todos os anos o protocolo era seguido à risca e não havia imprevisto que nos impedisse de aproveitar esta época do ano. "Mas a vó não está se sentindo muito bem, sabe. Acho melhor ela não ir" "pois que vá adoentada mesmo. Não há marchinha que não cure as enfermidades do corpo, nem da alma". E íamos, felizes: eu, minha mãe, minha irmã, meus tios, minha prima e meus avós.
A preparação para a festa começava na semana anterior. Minha prima, mais abastada, ganhava as mais diversas fantasias, ano após ano: bailarina, odalisca, dálmata (sim, o cachorro com as pintinhas do filme da Disney). Já eu, utilizava dos recursos disponíveis para improvisar uma fantasia, e minha mãe era fera nisso. Eu ia de qualquer coisa, não importava, desde que eu fosse. Mas, confesso que eu tinha minhas preferências: as dançarinas rebolativas do extinto grupo É o Tchan. Eu sempre era a loira, se tratando do carnaval ou de qualquer outra brincadeira envolvendo as danças do grupo.
Lá no clube, eu me acabava. Minha felicidade era evidente, afinal era carnaval, oras! A época mais alegre do ano. Minha família procurava uma mesa mais próxima da pista possível, para olhar as crianças e impedir que as pestes fugissem do campo de visão.
Eu e minha prima vivíamos numa relação de amor e ódio. Mas na pista de dança éramos só felicidade, embaladas por É o Tchan e as mais diversas letras de axé da época.
Geralmente retornávamos pra casa por volta das 20hs, e o fato de a noite já ter caído me dava um prazer imenso: eu estava num clube, e já era noite. Me sentia adulta, madura, voltando de uma festa.
Com o passar dos anos, minha família que já era pequena, foi diminuindo gradativamente. Entes queridos foram embora, agregados já não fazem mais parte do clã e as idas ao clube foram ficando escassas, até que o ritual carnavalesco de todos os anos deixou de existir.

Hoje em dia, detesto o carnaval. Não existe mais o brilho de outrora, as coisas não são mais tão fáceis e a ingenuidade é efêmera: vai se perdendo conforme vamos crescendo, incorporando responsabilidades e deixando de ser criança. Dia desses estava comentando com uma amiga a respeito das letras de duplo sentido que embalavam nossa diversão. Confesso que, até hoje não sei o que significa "segurar o tchan".
Lembro com saudade daquele tempo, onde eu não tinha muito, mais tinha uma família linda, e isso era tudo. Hoje, já não vejo nada de mais em voltar no outro dia de uma festa. Detesto ser adulta: não consigo levar a vida com leveza e ver graça nas coisas simples.  
Crescer é, sem dúvida, a coisa mais chata de toda a nossa existência. E essa chatisse crônica, doença contemporânea, não há marchinha que cure.

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