quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Dom Casmurro

                 Costumo ler de tudo, pesquiso sobre a vida dos escritores e tenho fases de obsessão, dependendo do momento da minha vida. Quando eu era pré-adolescente, por exemplo, tinha fixação por Pedro Bandeira. Lia todos os livros infanto-juvenis do escritor, até que eu entrei para o Ensino Médio. Eu gostava de Clarice Lispector antes dela assinar frases fictícias filosofando sobre a vida em timelines aleatórias no Facebook. Tive a fase Luis Fernando Veríssimo, porque sempre achei este senhor muito culto e irônico, além de carregar o estigma de ser filho do grande Érico Veríssimo. Ponto pra ele.

             Quando ia acampar com minha irmã, lia Martha Medeiros. Lembro que a gente ia para a beira da Lagoa, ela com a cara ensopada de protetor solar, camiseta, chapéu, o medo de pegar sol e o livro Montanha Russa, da Martha. Teve uma época que eu tava mais pro suspense, então devorava Agatha Christie e todos os assassinatos desvendados brilhantemente por Hercule Poirot.

              Ultimamente estou meio obcecada por escritores novos, como o Gregório Duvivier. O cara tem vinte e oito anos, é escritor, roteirista, ator, comediante, inteligente, esquerdista e lindo. Espero ansiosa pela segunda-feira, dia de publicação na sua coluna semanal na Folha de São Paulo, um dos meus poucos prazeres nesse dia cruel. Além disso, teve seu novo livro, "Put some Farofa" elogiado  e recomendado por nada mais nada menos que meu velho Veríssimo. Porém, talvez nenhum escritor tenha me intrigado tanto durante minha formação como leitora e observadora-reflexiva como Machado de Assis. Todo mundo na época de colégio torcia o nariz para as obras do escritor, talvez pela linguagem rebuscada do final do século XIX e por buscarem leituras que estivessem ligadas ao universo adolescente. Não sei. Só sei que ele me ganhou com Dom Casmurro. Lembro que li para o vestibular, depois reli por prazer e li pela terceira vez com um olho clínico, uma percepção de detetive, inspirada no Poirot na tentativa de desvendar o assassinato do amor de Bentinho por Capitu, que morreu aos poucos, sufocado pelo orgulho e pela dúvida da traição. Fiquei dias, semanas, meses, tentando encontrar uma resposta. Sem sucesso. Nem eu nem grandes estudiosos da obra de Machado de Assis encontraram respostas para tal enigma literário.

              A mesma sensação que algumas pessoas têm ao ler sobre o amor de Edward e Bella ou sobre a descrição detalhada do mundo mágico de Harry Potter eu tive diversas vezes lendo Dom Casmurro. Eu fechava o livro e os olhos e imaginava cada cena. Bentinho penteando os cabelos de Capitu. O beijo. A esperteza de Capitu ao fingir para a mãe que nada aconteceu. A descrição do autor para os olhos da moça: "olhos de ressaca". Quer algo mais profundo e poético do que isso? Olhos que, assim como o mar em dias de ressaca, arrasta tudo para dentro de si. "Olhos de cigana obliqua e dissimulada". Fiquei sem ar e sem chão lendo esse livro. Machado descrevia cada cena com uma riqueza poética e metafórica que me deixou apaixonada pela história de Bento e Capitolina. Até que o livro acabou, pela terceira vez. E virou minissérie. E conseguiu manter a genialidade e a poesia do livro, para minha satisfação.

          Ah, se esses leitores de meia tigela que gastam tempo publicando frases e pensamentos de escritores que nunca leram soubessem o valor de um bom Machado de Assis. E de Clarice Lispector, quando não for uma frase aleatória atribuída a ela filosofando sobre a vida, da forma mais clichê possível.

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